2 de julho de 2011

Crítica: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

(ANTONIO DAS MORTES)

Direção: Glauber Rocha

Roteiro: Glauber Rocha

Produção: Claude Antoine e Glauber Rocha

Ano: 1969

Elenco: Maurício do Valle, Odete Lara, Othon Bastos...

Duração: 100 minutos

Realmente alguém ainda tem dúvida sobre a participação do Brasil dentro do cinema western? Então, tire suas conclusões...

Análise: Antes de iniciarmos, espera aí... Um faroeste no Brasil? Não exatamente. A explicação para esta resposta não é muito difícil, porém é perigosa: se possuímos esta maravilhosa riqueza cultural e histórica, qual o motivo de fazermos um filme em proporções estrangeiras? Talvez tenha sido por esta e muitas outras que Glauber Rocha – um dos maiores cineastas brasileiros, senão o maior – apresenta ao planeta cinematográfico um pouco de nosso valor, um pouco de nossa nuvem de cultura e história, dando vida aos cangaceiros consagrados (como Lampião) e assim misturando contos verídicos e fictícios, mas sempre com aquela massa de referências vindas do western.

Para que uma película ganhe forma, é necessária a criação de um personagem principal, porém em O Dragão da Maldade tal personagem já havia sido criado: Antônio das Mortes (Maurício do Valle) foi inicialmente concebido para estrelar Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964); no entanto, seu modus-operandi como "matador-de-cangaceiro" aumentava cada vez mais, possibilitando sua entrada para ser a estrela em O Dragão da Maldade, ao lado de Othon Bastos e Odete Lara. Ele próprio já é um exemplo da referência que o western trouxe ao filme de Glauber: possuidor de um passado carregado por sangue de cangaceiros, Antônio das Mortes foi responsável pelo assassinato do lendário Lampião; sendo uma espécie de caçador-de-recompensa e perigoso até o último suspiro, ele recebe uma proposta de Mattos (Hugo Carvana) para dar cabo a um bando de cangaceiros que atuam na região de Jardim das Piranhas e é liderado por um dos remanescentes de Lampião, o jovem apelidado de Coirana (Lorival Pariz). Indignado por ainda existir tais bandos no mundo mesmo após a morte de Lampião, Antônio não aceita dinheiro em troco e parte para a surpreendente aventura contra o cangaço.

Em relação aos aspectos de atuação, nenhum ator deixou a desejar, sempre mostrando uma boa relação com as câmeras e realmente encarnando seu papel. A trilha sonora de Marlos Nobre é tortuosa, com a maioria das músicas cantadas, porém o resto com instrumentos difíceis de identificar, causando uma extrema nostalgia (principalmente na cena da morte do bando de Coirana). A fotografia de Affonso Beato é belíssima, dando grande e justificada importância às cores, já que foi o primeiro projeto de Glauber Rocha feito totalmente em colorido. E a direção de Glauber Rocha nem é preciso comentar: extremamente habilidosa, impondo à tela planos de longa duração e totalmente admiráveis, com pouquíssimos cortes e a câmera praticamente estática; assim ele chegava a criar um estilo próprio e, acima de tudo, uma maneira de provocar seu ator a dar o máximo de si para a cena em questão. Por este trabalho, Glauber conseguiu um prêmio no Festival de Cannes como “Melhor Diretor”.

Glauber Rocha recebendo a Palma de Ouro do Festival de Cannes pela sua direção em “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”.

O único erro do trabalho foi a pequena oscilação existente entre os grandes momentos de elevação e inspiração e os de enjoo. Já o ponto alto e mais marcante talvez venha das cantigas executadas pelo bando de Coirana, que une desde cangaceiros até mulheres de todas as idades; em tais canções, falava-se de Cosme e Damião, ícones de algumas religiões afro-brasileiras, acrescentando mais pontos a serem comentados.

Por tudo isto falado durante a análise, nosso conterrâneo e mestre do cinema nacional, Glauber Rocha realiza um faroeste tipicamente brasileiro, caracterizado pela substituição dos homens de barba malfeita do western spaghetti e dos mocinhos bem arrumados do norte-americano, pelos cangaceiros e jagunços do sertão de nosso Brasil. Além disso, a obra de Glauber não pode ser vista simplesmente por suas imagens, mas também pelo contexto que é colocado atrás de tudo, possuindo assim diversos significados, como o nosso simbolismo cultural, referências a ícones do país, mistura de histórias verídicas e fictícias, política e etc...

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

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