25 de janeiro de 2012

Crítica (n.100): Butch Cassidy

BUTCH CASSIDY & SUNDANCE KID

Direção: George Roy Hill

Roteiro: William Goldman

Produção: John Foreman

Ano: 1969

Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross...

Duração: 110 minutos

Os últimos e decisivos murmúrios de três respeitáveis heróis: Butch Cassidy, Sundance Kid e o western clássico.

Análise: Com o lançamento de Blackthorn – Sem Destino (Mateo Gil, 2011), o mito da dupla de facínoras Butch Cassidy e Sundance Kid ficou ainda mais difícil de ser desvendado. Se alguns dizem que ambos foram mortos no tiroteio contra o Exército Boliviano na cidade de San Vicente, em 1908 (a teoria apresentada pelo diretor George Roy Hill), outros discordam e preferem apostar todas as suas fichas na surpreendente produção hispano-franco-boliviana de Mateo Gil.

A dupla realmente teria morrido no controverso tiroteio contra o Exército Boliviano? A dúvida divide opiniões até hoje...

Como se estivéssemos situados em uma obsoleta sala de cinema, o filme abre suas rústicas – porém inovadoras – portas através de quatro elementos que dividem o grande ecrã entre si: os ruídos de um antigo projetor cinematográfico, algumas imagens ainda sem conhecimento da magia do colorido, a bucólica melodia e, por fim, os créditos de todos os responsáveis por fazerem de Butch Cassidy um dos faroestes mais certeiros na longa história que cerca o gênero. Sem uma visão mais além, entretanto, toda esta introdução soaria em um aspecto normal. Assim, minha interpretação mediante o início do filme é justamente pelo fato de “projetores, projeção, música e créditos” formarem a essência do cinema! Ou seja, desde seu primeiro minuto, Butch Cassidy é uma verdadeira obra-de-arte.

A película é, antes de tudo, mais do que uma simples aventura de dois bandidos carismáticos que existiram na vida real e fizeram parte da história norte-americana. Ela também é engraçada, icônica, apaixonante, mortal...

Imediatamente na cena de abertura, Roy Hill já nos deseja revelar os quão amedrontadores e populares são Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford). A informação que quer ser passada pelo diretor entra com clareza em nossa mente, sem precisar de muito alarde: basta dizer o primeiro nome de algum dos dois facínoras, e convidar o mesmo para ficar no local por algum tempo. Se tudo correr como o esperado, ninguém sai machucado! O método da dupla não poderia ser mais fácil.

A partir de então, a parceria dentro (e fora!) das telas funciona da maneira mais perfeita possível, principalmente quando o filme culmina na antológica e imortal cena da bicicleta: sendo uma das memoráveis em todo o ciclo já percorrido pela sétima-arte, Butch carrega a professora Etta Place (Katharine Ross) e faz piruetas no meio de transporte que chama de “futuro” – referenciando-se a bicicleta – ao som da canção Raindrops Keep Falling On My Head.

Como se pôde perceber pela trama, um roteiro incontestável e vencedor de Oscar é escrito por William Goldman, proporcionando diálogos marcantes, cenas de um humor refinado, personificações únicas e um tanto quanto diferentes da realidade (o que isto importa para uma obra de ficção?) e situações que duram o tempo correto em tela. Um exemplo é a grande perseguição em busca da dupla: mesmo tomando para si praticamente todo o segundo ato, em nenhum momento ela perde sua elegância; ao contrário, nossa curiosidade em relação ao que acontecerá só aumenta.

Além desta, mais três outras estatuetas ainda foram entregues ao filme, condecorando duplamente o compositor da trilha sonora Burt Bacharach: uma por sua ilustre canção escrita em conjunto com Hal David exclusivamente para o filme e cantada por B.J. Davis (Raindrops Keep Falling On My Head) durante a famosa cena da bicicleta, e outra por sua própria condução na banda de sons.

Já o último dos prêmios foi para a fotografia, de Conrad L. Hall, o qual obteve certo destaque ao trabalhar no velho-oeste de Os Profissionais (Richard Brooks, 1966) e em projetos do diretor Sam Mendes, bem como Beleza Americana (1999) e Estrada para Perdição (2003). Aqui, em sua fase mais inspirada, consegue fumegar fascinantes paisagens desérticas nos mais diversos tons de seu olhar através da câmera: desde um denso sépia envelhecido e poético, até os coloridos que se misturam sobre a terra e as vegetações.

A direção de George Roy Hill, vencedora no BAFTA e apenas nomeada no Oscar, nunca passa dos limites e muito menos se torna pedante. Ele sabe como dirigir sua trupe de atores e se posiciona com classe em seu sexto trabalho dirigido para o cinema – o primeiro com mais reconhecimento por parte do público e da crítica especializada. Anos mais tarde, uma dobradinha do trio Roy Hill-Newman-Redford acontece ao realizar Golpe de Mestre (1973), filme vencedor de sete Óscares (um para Hill!) e responsável por consagrar definitivamente uma das mais ligeiras e certeiras sociedades do cinema.

Finalizando, com um elenco de peso eleito a dedos pelo próprio Roy Hill, as atuações rendidas pelo trio principal (Newman, Redford e Ross) se dão muito acima do normal. Apesar disto, a obra não é realizada somente por eles, sobrando ainda um pouco de espaço a ser preenchido por papéis menores: é o caso do veterano Strother Martin, interpretando Percy Garris.

Da esquerda para a direita: Paul Newman, George Roy Hill e Robert Redford.

Claramente inspirado pelo novo gênero na época – o bloodbath, ou simplesmente “banho de sangue” –, Butch Cassidy tem no calor de seu conteúdo um dos trabalhos mais completos já assistidos em todos os tempos. Mesmo não contendo o mesmo nível de violência que Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas (Arthur Penn, 1967), a realidade gráfica de ambos os projetos se aproxima quando se diz respeito a “sangue e ferimentos”, fora o fato de seus protagonistas também ganharem a vida com o crime.

E, enquanto um gênero surgia, outro adoecia em grande escala, perdendo não só seu espaço, mas também sua longa vida prestada junto ao cinema e outros meios de comunicação. O western épico e de caráter clássico não cabia mais na vitrine da sétima-arte, tendo de elevar as conservadoras narrativas do velho-oeste (Guerra Civil, índios, saloons, mocinhos, bandidos...) para um terreno de maior estabilidade, justamente como pode ser estudado em grande parte da filmografia de David Samuel Peckinpah.

Mas, de qualquer jeito, é assim que caminha a humanidade...

MINHA NOTA PARA ESTE FILME:

ANÁLISE FEITA POR BRUNO BARRENHA.

4 comentários:

  1. ótimo filme. Recém lançado em DVD Duplo com diversos extras e com preço super acessível.
    Quanto a morte dos assassinos, li em algum lugar uma suposta tese de que foi suicídio...
    Ótimo post, parabéns, o Blog sempre ótimo...

    Aguardo sua visita em minha pagina ok...

    Abração

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  2. Obrigado pelo comentário e pelos elogios.

    Não resisti e acabei comprando o DVD duplo, com muitos extras interessantes. Paguei R$12,99 - o que considero, realmente, super acessível.

    Já dei uma passada pelo seu blog. Parabéns!

    Abraços.

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  3. Acabei de assistir ao filme e vim correndo para cá, pois sabia que haveria uma crítica sobre ele.

    Estou muito impressionando com o que vi, quase que da mesma maneira que fiquei quando assisti a Três Homens em Conflito.

    Esse segunda ato que você citou é uma aula de cinema... o jogo de gato e rato criado nos faz sentir uma agonia sufocante.

    E o desfecho mais do que perfeito... OBRA-PRIMA.

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    1. Concordo em tudo que disse. Acho que depois deste comentário, o que preciso mesmo é somente assinar embaixo!

      Obra-prima de filme.

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